Reflectir a Fotografia (Jorge Alves – Setembro de 2012)
“O sonho representa a realização de um desejo.” Sigmund
Freud
Quando nos idos anos da década de
70 percorri o estuário do Tejo, dando uso à “Halifax” que um amigo me emprestou,
nunca imaginei o que esta forma de expressão iria tornar-se numa verdadeira e
fascinante companhia ao longo da minha vida.
A Fotografia, para além de paixão, tornou-se a minha profissão.
Com ela pude concretizar sonhos, ganhar a vida, matar o tempo, viajar e
apaixonar-me.
A Fotografia é o meu
pensar quotidiano, a minha forma de enquadrar o que me vai na alma. Através
dela organizo o mundo à minha maneira. Ponho de parte o que não quero e elevo o que
para mim é importante.
A Fotografia é um vício que foi adoptada pela minha mente. É
nela que reflito a minha vida e tento exorcizar os meus fantasmas, as minhas
dúvidas, os meus medos, os meus desejos.
Faço
percursos imaginários pela paisagens de Ansel Adams, tenho estados de alma com
fotogramas de David Lynch, penso a Europa em conflito com Frank Capa e os Europeu
com Cartier Bresson, percorro a ruas de Paris com Robert Doisneau, olho os
percursos, gentes e ruelas de Lisboa com Gerard Castello Lopes e Victor Palla,
amo as mulheres de Richard Avedon e fico inseguro com as modelos de Helmut Newton.
A Fotografia,
assim como toda a arte, começou por perder o provincianismo dos anos anteriores,
as mentes estão mais abertas (obrigado globalização!), o país e as pessoas
evoluíram. Há menos estereótipos intelectualizados, há menos preconceitos
porque se democratizou.
O fotógrafo
profissional de hoje começou a não ser aquele indivíduo que foi para a
Fotografia com poderia ter ido para qualquer outra qualquer profissão. Porque,
se não, está fora do mercado. Para se fazer algo deve-se fazer com paixão e
entrega, temos que tentar estar acima das expectativas.
Encontro
fotógrafos da área social com uma abordagem extremamente inovadora. Excelente
formação estética e artística que as novas escolas estão a formar. A fotografia
de casamento já não é desprestigiante como era antigamente. Há bons ou maus
fotógrafos assim como há, ou não,
competentes em qualquer outra profissão. A dignificação passa pela maneira com
fazemos bem o nosso trabalho. E temos a obrigação de dar sempre o nosso melhor.
Até há
pouco tempo só nas grandes capitais da moda e da arte havia menos preconceito
em relação ao fotógrafo que tinha que fazer fotografia comercial e dedicava-se
também, com empenho e talento, à fotografia, como arte, sem haver confusão na
mente das pessoas de boa fé.
Na
Arte, e no que respeita à Fotografia, houve uma evolução gigantesca. A Arte
deixou de ser de uma elite e cada vez se valoriza mais quem tem valor,
independentemente dos nomes que alguém consagrou.
Experimentem
ir ao portal “Olhares” e vejam alguns
fotógrafos portugueses, amadores ou profissionais, que ninguém fala e que têm um trabalho
verdadeiramente excepcional.
Em
Portugal, como em tudo, há excelentes artistas que devem ser acarinhados e
motivados a fazer mais e melhor.
Agora,
devido ao facebook, aos blogs, aos sites e a revistas com esta, o nosso
trabalho pode ser divulgado.
Cabe ao
Estado e à iniciativa privada dar o devido acompanhamento, pois a evolução do
país passa por isso, pois "É na arte que o homem se
ultrapassa definitivamente”.
Jorge
Alves
Fotógrafo
e Formador
www.jorgealves.net